Kid Manner é um autor que parece gostar de escrever. Isso nota-se nesta obra onde dedica o primeiro capítulo à formação e localização de Cheyenne, uma cidade famosa pelos duelos intensos e celebrada em obras de Estefania e Joe Mogar. Apreciem:
Cheyenne, cidade norte-americana cujo nome perpetua a recordação de uma tribo de peles-vermelhas, está situada no extremo Sul-Oriental do Estado de Wyoming, na rota do «Union Pacific», junto do Front Rang, posto avançado do gigantesco espinhaço geológico das Montanhas Rochosas, formidável barreira que separa o Oeste dos Estados Unidos do resto do País.
Nas cercanias de Cheyenne está o caminho de Laramie, e um pouco mais ao norte, o chamado «agulheiro» de Wyoming. Por esta zona desfilaram sucessivamente os primeiros caçadores de peles, os pesquisadores de ouro dirigindo--se atropeladamente para os «prazeres» californianos, e o transcontinental mais antigo, o «Union Pacific», que muito contribuiu para o povoamento das planícies centrais e do Oeste.
Em Cheyenne terminam as «Grandes Planícies», que chocam nos primeiros contrafortes das Rochosas tão bruscamente, como o mar contra a costa que diminui o seu ímpeto cego.
Cheyenne surgiu dum momento para o outro. O seu nascimento era uma necessidade imposta pelos fatores geográficos, económicos e políticos. Pode mesmo afirmar-se que se fosse destruída ou o lugar onde se situa deixasse de permanecer na memória dos homens, no mesmo local, onde agora se ergue, seria novamente levantada.
Desde o primeiro momento, nasceu o pensamento de que essa cidade não teria o mesmo destino de todas as outras que se erguiam um dia, para caírem no outro, somente pela necessidade e imaginação de meia dúzia de homens doidos.
Os primeiros dias de Cheyenne foram muito duros. Situada na «fronteira», foi o refúgio de pessoas que nada tinham que perder — mas muito que ganhar — no fabuloso «jogo» da colonização, com a vida suspensa entre as lutas de brancos e índios e contra as cruéis surpresas dum território inexplorado, que passava sem transição do pomar ao deserto.
O lema era: perder ou ganhar. Ganhar tudo ou perder tudo, inclusive a vida. Era neste estado de espírito que os pioneiros se encontravam. De 1867, data do seu levantamento, até 1890 Cheyenne, foi a «antessala» do inferno. Tal afirmação não é exagerada, porque, muito poucos, dos homens que morreram na cidade durante esse interregno, partiram para outra vida melhor com a consciência tranquila.
Claro está, que quase nenhum deles morria de morte natural. Esse facto era uma particularidade que caracterizava o «clima» da cidade. Não que ela fosse motivada pelos germes patogénicos, mas sim pelas «indigestões» de chumbo e aço. Mas hoje, toda a gente sabe que, onde morre a pradaria, está Cheyenne, vigiando a porta do Oeste...