O sol incendiava o horizonte quando o Grande Chefe Branco, Thomas Hale, desmontou do seu cavalo baio. Trazia o chapéu na mão e a poeira da longa viagem no rosto, um homem determinado, mas cansado de carregar promessas que sabia não poder cumprir totalmente.
À sua frente, erguia-se o acampamento do povo Lakota. Tecidos coloridos balançavam ao vento, e as fogueiras exalavam o cheiro de sálvia. Sentinelas observavam em silêncio. Nada ali era improvisado; tudo tinha significado.
No centro aguardava-o Corvo Que Escuta, o chefe Lakota. Era um homem de presença firme, olhar atento e uma calma que parecia vir das próprias planícies.
— Vieste pedir de novo — disse Corvo Que Escuta, antes mesmo de Hale abrir a boca.
Hale respirou fundo.
— O governo insiste. A linha de ferro vai avançar. Haverá empregos, comércio… progresso.
O chefe inclinou a cabeça, estudando o visitante.
— Progresso para quem? — perguntou, serenamente.
A tensão cresceu.
Um murmúrio correu entre os guerreiros Lakota reunidos à volta da tenda. Hale sentiu a pressão daquele silêncio espesso, tão pesado quanto a tempestade que se anunciava no céu distante.
Corvo Que Escuta ergueu a mão, e o acampamento aquietou-se.
— A linha passa pelo território onde o bisonte retorna todas as estações — disse ele. — É o nosso alimento, a nossa história, o nosso pacto com a terra. Se o caminho de ferro cortar a rota dos bisontes… eles não voltarão.
Hale conhecia aquele argumento. Ouvira-o de outros líderes, noutras terras.
— Os tempos estão a mudar — respondeu. — A nação cresce, precisa de caminhos e cidades. Não posso detê-lo.
— Mas também nós somos uma nação — afirmou o chefe.
A frase ecoou como o golpe de um martelo. Eram duas visões sob um mesmo céu.
Por momentos, nada se ouviu além do vento a varrer a relva alta. Os cavalos relincharam ao longe, inquietos.
Hale aproximou-se alguns passos.
— O que posso levar de volta? — perguntou. — Alguma condição que vos faça ceder parte do território? Uma compensação justa?
Corvo Que Escuta ergueu os olhos para o horizonte — um mar dourado de planícies que se prolongava até onde a vista permitia.
— Como se paga um lar? — murmurou. — Como se mede o valor de uma manada de bisontes? Ou de um rio que corre livre?
Virou-se então para Hale.
— Tu dizes que o progresso é inexorável. Eu digo que nada é inexorável enquanto os homens tiverem voz. E a nossa voz diz não.
A que desfecho iriam chegar?
A tensão era tão forte que parecia entortar o ar. Alguns guerreiros pousaram a mão nas lanças. Um dos homens de Hale deslocou-se instintivamente para o coldre.
Mas o chefe levantou a mão outra vez — firme, tranquila, nobre.
— Não queremos guerra — afirmou. — Queremos respeito.
Hale fechou os olhos um instante. Ali estava uma parede que nem pólvora nem promessas conseguiriam derrubar sem custo enorme — moral, humano, histórico.
Quando voltou a montar o cavalo, o sol já descia.
— Voltarei com outra oferta — disse.
Mas, no fundo, sabia que nenhuma oferta seria suficiente.
Corvo Que Escuta observou-o afastar-se e murmurou para si mesmo:
— A terra não pertence aos homens. Os homens pertencem à terra.
E, enquanto o vento corria livre pelas planícies, os bisontes continuaram a pastar, alheios ao futuro que se aproximava como um comboio distante.

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