Terror na Floresta
A jovem tinha deixado para trás as cercas do rancho ainda ao romper da manhã, quando o sol mal riscava de ouro as colinas distantes. Caminhava sozinha pela orla da floresta, o vestido tocando a erva seca e as botas marcando o chão poeirento como se seguissem um trilho conhecido apenas pelo coração.
Ali, entre pinheiros altos e sombras frescas, o mundo parecia mais calmo, como se o próprio Oeste segurasse a respiração. A luz filtrava-se pelas copas, caindo sobre ela em faixas quentes, e o vento carregava o cheiro da resina, da terra viva e de promessas que só quem ama sabe ouvir.
Parou num pequeno clareira, onde
a relva balançava suavemente e os pássaros cantavam com a confiança de quem
nunca viu uma guerra. Ali esperaria. Sabia que o seu amado viria
homens como ele, homens do Oeste, não quebravam promessas, mesmo quando o
caminho era longo e a vida lhes cobrava mais do que deviam.
A jovem passou a mão pelo cabelo
e ergueu os olhos para o horizonte entre as árvores. E então sorriu,
porque o vento mudou de direção e trouxe consigo o eco distante de cascos, um
som firme, decidido, como o coração de um homem que regressa.
E ela soube que não esperaria por
muito mais tempo.
A mudança no vento que fizera a
jovem sorrir não anunciava apenas o retorno esperado. Havia mais alguém na
floresta, alguém que caminhava sem o som franco de um cavalo, mas com a astúcia
de quem viveu demasiado tempo nos cantos sombrios do Oeste.
Ela só percebeu quando já era
tarde.
Um braço áspero, cheirando a
poeira velha e tabaco barato, agarrou-a por trás. O grito morreu-lhe na
garganta quando um pano grosseiro lhe tapou a boca e o mundo se tornou um
turbilhão de movimento, árvores passando depressa, o chão fugindo debaixo dos
seus pés.
Não era o passo do homem que a
assustava, mas a certeza fria de que ele sabia exatamente para onde ia.
Chegaram à cabana ao cair da
tarde. Ficava escondida num vale estreito, onde até o vento parecia cauteloso
demais para entrar.
Era uma construção simples,
velha, feita com troncos que viram tempos melhores, e com um alpendre que
rangia como se guardasse segredos.
O bandido empurrou a porta com o
ombro e atirou um olhar rápido para a mata em redor, como quem vive
permanentemente à espera de ser caçado.
— Não te vou magoar se não
fizeres disparates — rosnou ele, a voz áspera como cascalho.
A jovem manteve-se firme, o olhar
mais corajoso do que o coração que batia depressa. Sabia que o pânico
nunca ajudou ninguém e que, no Oeste, as pessoas fortes sobreviviam não pela
força dos braços, mas pela força da vontade.
Lá fora, a noite começava a cair,
pintando o céu de violeta escuro, e cada estrela que surgia parecia uma
promessa silenciosa:
Ele vai vir.
Ele vai encontrar-me.
E nenhum malfeitor dura muito
tempo quando um homem de verdade segue o seu rasto.
O noivo chegou ao local combinado
pouco depois do sol subir o suficiente para dourar as folhas mais altas. O
cavalo parou sozinho, como se também percebesse que algo estava errado.
A clareira estava silenciosa.
Silenciosa demais.
Ele desmontou devagar, o coração
firme mas inquieto, homens como ele não se deixam dominar pelo pânico, mas
sabem reconhecer quando o mundo lhes vira as costas.
— Maria? —
chamou, a voz misturando força e medo.
Nenhuma resposta. Apenas o
murmúrio distante dos pinheiros.
Avançou alguns passos, os olhos
treinados examinando cada pormenor. O chão estava perturbado: relva
amassada, marcas estranhas, como se alguém tivesse lutado ali. A dúvida
transformou-se em gelo no peito.
Ajoelhou-se. Corria nos
campos desde rapazinho; conhecia a leitura das marcas como outros conhecem
letras num livro. Havia pegadas, duas séries distintas. As dela:
leves, pequenas, caminhando com a graça de sempre.
E depois outras, largas, pesadas…
desenhadas no solo como feridas.
— Levaram-te… — murmurou.
Mas junto às pegadas havia também
marcas de arrastar, sinais de que ela não fora por vontade própria. O que
lhe apertou o punho com uma raiva silenciosa. Raiva justa. Raiva de homem que
ama.
Montou novamente com um só
movimento, os olhos fixos no trilho. Não hesitou. No Oeste, quando a vida
te rouba alguém, tu montas, apertas as rédeas e vais buscá-la.
Seguiu as pegadas pela orla da
floresta, mais fundo, onde a sombra era espessa e o ar carregado do cheiro
de resina e perigo. O cavalo avançava determinado, como se entendesse a
urgência.
Cada marca no solo era um sinal.
Cada ramo partido, uma promessa. Cada metro percorrido, uma certeza:
Ele estava a aproximar-se.
E nenhum bandido, por mais
astuto que fosse, poderia esconder por muito tempo uma mulher que ele amava.
Dentro da cabana, a luz fraca da
lamparina fazia dançar sombras tortas pelas paredes de troncos.A jovem,
amarrada mas intacta, mantinha o olhar firme, orgulho de quem nasceu para não
se dobrar perante canalhas.
O raptor caminhava de um lado
para o outro, inquieto. Mas o pior não era ele. Era o outro.
Sentado numa cadeira gasta, botas
cruzadas, olhar frio como metal temperado, estava um homem mais
perigoso. Mais calmo. O tipo de homem que pensa antes de puxar o
gatilho, o que, no Oeste, o torna ainda mais temível.
Chamavam-no Dolan. E
Dolan nunca raptava ninguém sem um plano.
Ele inclinou-se para a jovem,
estudando-a como quem avalia uma peça rara.
— A tua família tem dinheiro,
menina. Mais do que o suficiente para pagar por ti.
O raptor engoliu em seco,
tentando parecer mais duro do que era.
— Então… fazemos como combinámos?
— perguntou.
Dolan levantou-se devagar, como
um predador que não precisa de pressa.
— Fazemos, sim. Vais ao rancho.
Bates à porta como um viajante cansado. Dizes que viste a rapariga a ser
levada para o norte por dois desconhecidos. Deixas-lhes esta carta… —
levantou um envelope dobrado com cuidado. — E sais antes que façam
demasiadas perguntas.
O raptor pegou na carta com dedos
nervosos.
— E se o pai dela desconfiar?
Dolan estreitou os olhos.
— O pai pode desconfiar. Mas vai
pagar. Todos pagam quando se trata de uma filha.
O raptor hesitou um instante,
olhando para a jovem, como se esperasse uma interferência. Mas ela manteve
o queixo erguido, sem lhes dar o gosto do medo.
— Vai — ordenou Dolan. — E volta
antes do pôr do sol.
O raptor meteu o chapéu, agarrou
o casaco e saiu pela porta de madeira, que rangeu como uma advertência
antiga. O cavalo esperava amarrado a uma estaca. Ele montou e partiu
pela mata, desaparecendo entre os pinheiros como uma sombra mal-intencionada.
A jovem ouviu o som dos cascos
afastar-se, e apesar de estar sozinha com o mais perigoso dos dois, algo no seu
peito iluminou-se.
Porque ela sabia que o seu noivo
estava a segui-los. Sabia que ele já devia estar na sua pista.
E sabia, por fim, que Dolan tinha
cometido um erro que custaria caro:
No Oeste, nunca se mexe com a
família errada.
Reviravolta Dupla
O noivo seguia o trilho com a
determinação de um homem que já perdeu demasiado na vida para perder mais uma
vez. E então ouviu algo. Um galho partido. Um cavalo ofegante.
Aproximou-se furtivamente, rifle
em punho, e avistou o raptor, sozinho, parado junto ao riacho, a lavar o rosto
como um homem à beira do desespero.
O noivo avançou rápido,
silencioso, e antes que o outro pudesse reagir, já estava com a arma apontada
ao peito dele.
— Onde está ela? —
perguntou com a voz baixa, dura como um prego bem batido.
Mas o raptor não puxou da arma.
Não tentou fugir. Levantou as mãos devagar, resignado.
— Não quero encrenca, senhor… Eu
não queria fazer isto. Dolan obrigou-me.
O nome fez o noivo enrijecer,
como se lhe batessem com ferro quente no coração.
— Dolan, disseste?
O raptor assentiu com a cabeça.
— Ele tem minha mulher e o meu
miúdo… Disse que se eu não ajudasse, nunca mais os via.
A verdade estava nos olhos dele.
Medo genuíno. E uma dor que o noivo reconheceu: a dor de quem tem alguém que
ama e não o pode proteger.
— Onde está Dolan? — insistiu o
noivo.
O raptor abaixou o olhar.
— Numa cabana velha a norte
daqui… mas…
— Mas o quê?
— O homem não é só um bandido
qualquer. Dolan… Dolan tem contas antigas com o pai da rapariga. Trabalhou no
rancho há anos. Disse que o despediram por “coisas pequenas”, mas eu ouvi as
histórias… ninguém o queria por perto. Era mau. Mau de verdade.
O noivo recordou vagamente o
nome, um rumor antigo, um caso esquecido, um homem expulso por roubo e ameaças.
Percebeu então que aquilo não era
apenas um rapto, nem era por dinheiro apenas.
Era vingança.
— Ele culpa o pai dela por tudo —
continuou o raptor. — Quer arrancar cada dólar… e mais um bocado de sofrimento.
O noivo baixou o rifle devagar,
sem tirar os olhos dele.
— E tu?
— Eu só quero a minha família de
volta.
Houve um silêncio pesado.
Depois, o noivo estendeu-lhe o
cantil.
— Então vamos buscá-los — disse.
— A todos eles.
O raptor olhou para o cantil,
depois para o noivo, e engoliu em seco.
— E se for uma armadilha?
— Que seja. A coragem de um homem
mede-se pelo que ele está disposto a enfrentar. E eu não volto para casa sem
ela.
O raptor respirou fundo e montou
o cavalo.
— A cabana fica a menos de duas
horas daqui. Mas Dolan… ele é astuto.
— Eu também — respondeu o noivo,
puxando as rédeas. — E tenho um motivo melhor.
E assim, os dois homens, um por
amor, outro por desespero, seguiram juntos pela floresta adentro, em direção à
cabana onde Dolan os aguardava com um plano de vingança e uma jovem refém que
não imaginava que a ajuda inesperada estava prestes a chegar.
A Reviravolta Inesperada
A noite caiu rápida sobre a
cabana, trazendo um frio silencioso que parecia entranhar-se nos ossos.
Dolan, seguro da sua própria
astúcia, passou horas a vigiar a jovem, mas até os lobos mais perigosos
precisam fechar os olhos por um instante.
E foi nesse instante que tudo
mudou.
A lamparina tremulava, prestes a
apagar-se, e a jovem, sempre atenta, percebeu que a respiração dele ficara
pesada.
Dolan adormecera sentado, o
chapéu tombado sobre o rosto e uma garrafa quase vazia ao alcance da mão.
Ela não perdeu tempo.
Com dedos hábeis e respiração
controlada, soltou o nó da corda que prendia os pulsos, um nó mal feito pelo
raptor, não por Dolan. O coração batia-lhe como um tambor dos índios
Paiute, mas o silêncio era seu aliado.
Deslizou até à porta, abriu-a
devagar… e fugiu para a escuridão da floresta.
A noite engoliu-a sem piedade.
E foi assim que se perdeu, não
por falta de coragem, mas porque a mata à noite é traiçoeira, e cada sombra
leva ao mesmo lugar.
Enquanto isso, o noivo e o raptor
avançavam pela mata, seguindo o trilho com o cuidado de homens que conhecem bem
o valor da vida. Quando viram a cabana, não hesitaram. Arrombaram a porta ao
mesmo tempo,
as armas erguidas, olhos
preparados para a pior das lutas.
Mas Dolan mal teve tempo para
acordar.
Um disparo seco ecoou na cabana,
e o velho bandido tombou sem levantar poeira.
Não houve honra no fim dele,
homens como Dolan raramente têm finais honrados.
O noivo correu para o interior,
chamando pela sua amada.
— Maria! Maria! Estás
aqui?
Mas as paredes responderam apenas
com o vazio.
A cama estava desfeita. As
cordas, soltas no chão. E a porta dos fundos aberta…
levada pelo vento.
O raptor, agora aliado, respirou
fundo.
— Ela escapou.
— Mas para onde?
— Para qualquer lado… Isto aqui é
um labirinto de pinheiros. Se não souber o caminho…
O noivo saiu para o exterior, os
olhos percorrendo a escuridão.
— Ela está lá fora. Assustada.
Sozinha.
E então fez o que qualquer homem
do Oeste faria:
Ajoelhou-se no solo, passou a mão
pela terra fria, e encontrou uma leve marca no chão, uma pegada tão pequena
quanto preciosa.
Mas era a última. A chuva fraca
que começara a cair apagava cada rasto que ela deixara.
O raptor aproximou-se, sombrio.
— Vamos ter de procurá-la como se
a vida dependesse disso.
— Depende — disse o noivo,
levantando-se. — A minha vida é ela.
A chuva engrossava, transformando
o chão num espelho liso. A floresta parecia engolir tudo.
E a jovem, algures na noite,
tremia ao ouvir o vento sem saber se jamais seria encontrada.
Mas o noivo fechou a mão em punho
e olhou para norte.
— Seja como for… eu vou
encontrá-la.
E assim, com Dolan morto, o
trilho apagado e a noite mais escura do que nunca,
os dois homens prepararam-se para
a busca mais difícil das suas vidas.
O Salvamento Dramático
A chuva caía em fios finos,
tornando a noite mais escura e a busca mais difícil. O noivo e o raptor
avançavam devagar, atentos a qualquer sinal. A floresta, densa e cerrada,
parecia esconder mais do que revelava.
Foi então que o raptor parou e
ergueu a mão.
— Está a ouvir? — murmurou.
O noivo concentrou-se. Entre
o vento e o sussurro das folhas, havia um som diferente… um barulho oco,
ritmado — madeira a bater.
— Uma porta… a bater com o vento
— disse ele. — Só pode ser uma cabana.
Moveram-se para norte, e após
alguns minutos descobriram-na: uma pequena cabana quase engolida pela
vegetação, oculta por arbustos espessos e um velho carvalho tombado. Era o
tipo de lugar que só se encontra se o destino ajudar.
A porta batia, rangendo como uma
alma em tormento. O noivo desceu do cavalo antes que este parasse por
completo e correu para lá, o coração aos saltos.
— Maria!
Mas quando abriu a porta, a
cabana estava vazia, apenas sombras, pó e silêncio.
Vazia… até ouvir o som atrás
dela.
Algo a rasgar a vegetação.
Algo pesado.
O raptor saiu primeiro, arma em
punho.
— Ai vem ele…
Um urso negro, grande, faminto,
desconfiado, rompeu por entre os arbustos, farejando o chão molhado. O
animal erguia-se nos quartos traseiros, o pelo escuro brilhando sob a chuva.
E foi então que o noivo viu:
atrás do urso, encolhida entre duas pedras, tremendo mas viva, estava ela.
A jovem.
— Maria! —
gritou, num sussurro entalado pela urgência.
Ela ergueu os olhos, e o brilho
de esperança foi instantâneo. Mas o urso voltou-se para ele, rosnando.
O raptor puxou da pistola.
— Não dispares — avisou o noivo.
— Se falhares, ele cai em cima dela!
O urso avançou um passo. A
jovem reteve o fôlego.
Tudo ficou imóvel por um
segundo. O mundo prendeu a respiração.
Então o noivo fez algo que poucos
fariam: baixou a arma, encheu o peito e gritou com toda a autoridade de um
homem cansado de perder.
— EI! AQUI! SOU EU QUE TU
QUERES!
O urso virou-se, lento,
ameaçador, e nesse instante, enquanto o animal mudava o foco, o raptor agiu.
Um disparo certeiro. Não
fatal, mas suficiente para assustar o animal e fazê-lo fugir para a floresta
numa corrida pesada.
O noivo correu para a jovem,
ajoelhando-se ao lado dela.
— Maria… Maria, estás bem?
Ela atirou-se para os braços
dele, sem conseguir falar. Tinha lama no vestido, folhas no cabelo, e o
coração a bater mais rápido do que os cascos de um mustang selvagem. Mas
estava viva.
O raptor aproximou-se devagar,
com respeito.
— Vamos sair daqui — disse ele. —
Antes que o urso decida voltar.
O noivo ergueu-a nos
braços. Ela pousou a cabeça no ombro dele, exausta, como se o mundo
finalmente tivesse parado de girar.
A chuva começava a
abrandar. As nuvens abriam-se num rasgo prateado.
— Já passou — disse o noivo. — Já
passou, meu amor.
E pela primeira vez naquela
noite, foi verdade.
Final — O Regresso ao Rancho
A chuva tinha parado quando os
três deixaram a cabana escondida. O ar fresco da madrugada misturava-se
com o cheiro a resina e a terra molhada, e cada passo do cavalo parecia
afastar a noite difícil que viveram.
A jovem, envolvida no casaco do
noivo, mantinha-se encostada ao peito dele, cansada, mas segura. Ele
não tirava os olhos do caminho, não por medo, mas por um sentimento profundo de
gratidão silenciosa.
O raptor seguia atrás, montado no
seu cavalo, a cabeça baixa. Não pela chuva, não pelo cansaço, mas pela
vergonha.
Quando finalmente avistaram as
cercas do rancho, a luz dourada do amanhecer iluminava a casa grande, ainda
silenciosa, ainda adormecida. O pai da jovem saiu ao alpendre ao ouvir o
tropel dos cavalos. Olhava fixamente, tentando entender aquilo que o
coração já sabia.
Quando viu a filha viva,
endireitou-se como se tivesse sido atingido por um raio.
— Minha menina… graças a
Deus!
Descendo os degraus num salto,
abraçou-a com força, as mãos tremendo como as de um homem que quase perdeu
tudo. Ela sorriu, cansada, mas inteira.
O noivo apenas observou,
dando-lhes o tempo que precisavam.
Depois, o pai voltou-se para ele.
— Devo-te a vida da minha filha.
— Não, senhor — respondeu o
noivo. — Ela salvou-se também. Teve coragem para fugir.
E então o pai reparou no raptor.
A expressão dele mudou.
A raiva subiu-lhe aos olhos como
uma fogueira antiga.
— Tu! — rosnou.
— O que é que este canalha faz aqui?
O raptor engoliu em seco, mas não
recuou.
Desmontou devagar, pousou o
chapéu no peito e falou sem desviar o olhar:
— Senhor… Eu fiz coisa errada.
Não nego. Mas fiz por medo. O Dolan tinha a minha família. O homem ajudou-me a
encontrá-los. E agora estou aqui para responder pelo que fiz.
O silêncio caiu pesado como uma
pedra num poço.
O noivo deu um passo em frente.
— Ele ajudou-me a salvá-la. E
enfrentou o pior homem deste território para isso.
O pai respirou fundo. Os
músculos do rosto contraíram-se, como se lutasse com duas forças dentro dele: a
justiça dura do Oeste e a misericórdia que só quem tem uma filha sabe pesar.
Finalmente disse:
— A lei vai decidir o que fazer
contigo. Mas aqui… agora… tens a minha palavra que não te faço mal.
O raptor baixou a cabeça,
aliviado.
— Obrigado, senhor.
O noivo aproximou-se dele e
estendeu a mão.
— A minha dívida contigo fica
paga. Agora segue o teu caminho. Vai buscar a tua família. Recomeça. Faz por
merecer a segunda oportunidade.
O raptor olhou a mão, hesitou… e
apertou-a com firmeza.
— Juro que faço, senhor. Por
Deus.
Montou novamente, virou o cavalo
na direção oposta ao rancho e partiu silenciosamente para o horizonte. Sem
despedidas dramáticas. Homens como ele não precisam delas.
Quando ficou tudo calmo, o pai
virou-se para o casal.
— Vamos entrar. A tua mãe vai
desmaiar de alegria… e de susto.
A jovem sorriu, segurando a mão
do noivo.
— Estamos em casa.
Ele olhou para a porta aberta,
para os campos dourados que começavam a acordar, e sentiu que aquele era o
lugar certo, um lugar onde o amor, a coragem e o Oeste selvagem coexistiam
like.
O noivo passou o braço pelos
ombros dela.
— Nunca mais te perco.
— Eu sei — respondeu ela. —
Porque eu também te teria encontrado.
E juntos entraram no rancho,
deixando para trás uma noite de perigo e começando um novo capítulo, um
capítulo que só o Oeste sabe escrever.
FIM

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