terça-feira, 28 de julho de 2015

NOD027. O túmulo ignorado

 Um homem avançava inclinado sobre o cavalo, tentando abrigar o rosto do furacão de areia que soprava do deserto; parecia fazê-lo como bom conhecedor do terreno que percorria.
Era ainda jovem, alto e de cabelo louro. Tinha o rosto queimado pelo vento e pelo sol das planícies. Vestia jaqueta de pele e o seu chapéu de aba larga estava bastante deformado. Um pequeno embrulho constituía toda a sua bagagem, além de uma «Winchester» que pendia duma funda a um dos lados e uma pá atada por uma correia no lado oposto.
De vez em quando parava para orientar-se. Era difícil fazê-lo no meio daquele deserto de areia que envolvia com abrasador e infernal calor. Tinha os olhos vermelhos e por vezes era obrigado a tapá-los: com a mão para impedir que o pó o cegasse.
Ao chegar ao cimo duma encosta rochosa, deteve-se pela centésima vez naquela manhã. Mas lesta vez apeou-se e estendeu-se no solo. Durante cerca de dois minutos esteve a observar a planicie que se disfrutava a seus pés, do outro lado da colina.
Em baixo, a menos de cento e cinquenta jardas, distinguiam-se entre a poeira as casas duma aldeia. Tudo parecia ver-se através dum véu amarelo. A paisagem era hostil e só algumas plantas espinhosas e catos ponteavam de verde o fundo amarelo da ressequida terra.
O homem não se moveu enquanto o vento sibilava sobre a sua cabeça. Quando o fez foi para se apoiar à sela do cavalo. Tinha um aspeto preocupado. Era evidente que alguma coisa o intrigava.
Montou de novo e começou a descer a encosta. Era ainda visível a rua que tempos atrás tinha sido a artéria principal de Glennside. Agora estava coberta de pó e de pedras. Era uma artéria morta que conduzia às portas duma cidade morta.
Quando chegou ao fim da única rua de Glenneside, Ben Ritter parou. Não podia acreditar que aqueles sítios que anos antes tinham sido cenário de tantos acontecimentos memoráveis, agora permanecessem envolvidos num silêncio de túmulo. As casas meio arruinadas, escuras e desordenadas, semelhantes a urna legião de fantasmas ali estavam agrupadas para lhe darem a sua sinistra saudação.
— Tinha que acabar assim — murmurou Ben, a meia voz, enquanto o vento que sibilava forte o impedia de ouvir as suas próprias palavras.
Olhou para o lado e fez o cavalo avançar por entre as casas desertas. Olhou com certa curiosidade o edifício que tinha sido o «saloon» de Webster, fez um gesto de repugnância ao passar em frente do antigo armazém dos irmãos Moody e fixou longamente a casa onde viveu a gentil Pat Bendix. Tinha então dezasseis anos e vivia com os tios, os vadios Clam e Kibb. Ignorava o destino de Clam, mas sabia que Kibb tinha morrido em consequência duma desordem em Glennside. De Pat não sabia nada. Se for viva, deve estar uma senhora. Era isso, pelo menos, o que o Bendix queria fazer da sua sobrinha.
Ben Ritter continuou o caminho até ao extremo oposto da rua. O vento ali soprava com menos violência, mas o pó era igualmente denso.
Ao chegar a um monte de pedras que assinalava o local onde costumavam beber os cavalos que entravam e saíam de Glennside, Ben Ritter apeou-se. Encostou-se a um poste que ali estava e esfregou os olhos para tirar deles o pó acumulado. Em seguida entrou num barracão e ali acendeu um cigarro.
Olhou em volta. A menos de dez passos havia um monte. No cimo, estava urna cabana em ruínas.
Ben agarrou a pá e para lá se encaminhou. Quando chegou procurou como que um ponto de referência. Deu mais alguns passos até ao cimo e voltou-se de novo. Olhou longamente aquilo que restava da povoação. Um sítio de infinita desolação e abandono. Tudo era silêncio, tudo sujeito à implacável ação devastadora do tempo. Nem um ser vivo, nem vestígios de vida por ali.
Aquele exame pareceu satisfazê-lo. Desceu alguns metros até chegar junto de um penhasco. Refletiu um pouco. Andou uns passos para e esquerda. Olhou mais uma vez o alto da colina e o edifício mais próximo.
Parecia satisfeito. Tirou o chapéu e a jaqueta de couro que pôs a seu lado e, agarrando na pá, enterrou-a na terra ardente.
Cinco minutos mais tarde suava copiosamente; mas tinha aberto uma pequena fossa de uns três pês de largura por um de profundidade. Descansou uns segundos continuando depois a cavar.
Se Ben Ritter soubesse que duma daquelas casas em ruínas o estavam a observar tinha abandonado imediatamente o seu trabalho. Mas estava absolutamente convencido que se encontrava só naquela imensidão.
Quando já tinha afundado a cova cerca de dois pés, bateu num objeto duro. O coração de Ben começou a bater com força; mas ao inclinar-se para examinar o que seria, quase que lançou uma exclamação de assombro. Porque o que acabava de encontrar era o crânio duma pessoa ali enterrada.
Ben Ritter ergueu-se e recuou um passo. Durante uns segundos contemplou o macabro achado.
Em seguida, largou a pá, e com a mão tirou a terra que cobria aqueles restos.
Quem seria a pessoa enterrada naquele sítio? Acaso se teria enganado ao calcular o lugar onde devia cavar?
Tirando a terra que cobria aqueles ossos, Ben fez uma nova descoberta. A ossuda mão do morto parecia crispar-se sobre uma corrente de ouro que sustentava um grande medalhão. Ben agarrou-a com um misto de veneração e de medo. Com a manga limpou o pó e examinou o objeto.
Era todo em ouro e apesar do tempo que estivera enterrada conservava-se em bom estado. A curiosidade levou-o a abrir o medalhão.
Continha uma fotografia. Eram as belas feições duma mulher. E, ao vê-la, os lábios de Ben contiveram a custo uma exclamação de assombro.
Mas não o fez, porque no mesmo instante atrás de si, soou uma voz fria e ameaçadora.
— Não te mexas, Ritter. Estou a apontar para a tua cabeça.
Não se mexeu. Ben Ritter sabia que se o fizesse morreria.
— Lembras-te dela, Ritter? -- continuou a pessoa que o tinha surpreendido, ainda sem se deixar ver. — Margaret. Era muito formosa. Cometeste muitas loucuras para lhe seres agradável e esta foi a Última. Mas sei que não foi por isso que vieste de tão longe.
Sim, era o retrato de Margaret, bela e altiva como a tinha conhecido. Parecia olhá-lo com os seus olhos maravilhosamente transparentes, duma tonalidade esmeralda que enlouquecia os homens que cruzavam o seu caminho.
Mas não podia pensar nela. A arma apontada A sua cabeça podia disparar-se de um momento para o outro. E Ben Ritter sentia uma curiosidade imensa em conhecer a identidade daquele misterioso habitante da cidade abandonada que tinha saído das ruínas para o surpreender no seu solitário trabalho.
— Que queres? — atreveu-se a perguntar.
— Olha-a bem — disse o outro. — Pensa no que Margaret faria por ti. Mas já não está aqui para te ajudar. Recordas-te bem dela, maldito Ritter?
Assim começa este excelente livro de R.C.Lindsmall. Para responder às interrogações do autor, só tem de ...

quinta-feira, 2 de julho de 2015

NOD026. Jogo de morte

(Coleção Bisonte, nº 84)
 «August Sheylander, com as mãos nervosas, trementes, gordanchudas como almofadas de carne, endireitou tudo aquilo.
Nem sequer se apercebeu de que faltavam cartas no baralho com que os cinco homens tinham jogado. Como algumas estivessem manchadas de sangue, o dono do casino resolveu queimá-las.
Entretanto, na ruela solitária onde Garry Brampton dormia o seu último sono, olhando, sem ver, o céu de Kansas, os dedos da mão esquerda continuavam agarrados a alguma coisa que nenhum dos homens implicados no seu assassínio tinha notado, na excitação e pressa de se desfazerem do cadáver.»

Termina assim o prólogo de mais esta magnífica novela de Donald Curtis. Garry Brampton é assassinado na sequência da venda de gado que lhe rendeu duzentos mil dólares e de ter perdido esse dinheiro ao jogo, apercebendo-se então de que os jogadores tinham sido pouco sérios.
No momento da morte, a sua mão manteve as quatro cartas que constituíam o seu jogo: quatro ases, quatro ases que vão estar presentes na vingança insuflada pela sua noiva, Jessie, ao irmão mais novo Alex.
Após o prólogo, a novela desenvolve-se em cinco partes dedicadas à educação do irmão e a cada um dos que participaram ou colaboraram no assassinato. Aí materializa-se a vingança de Jessie e o reencontro de Alex com a felicidade.

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