O sol ainda não havia se posto completamente, e o calor abafado da tarde começava a dar lugar à frescura da noite no pequeno vilarejo de Dusty Ridge. O saloon, aquele refúgio de madeira e couro gasto, estava começando a se agitar. As mesas de bilhar estavam a ser arrumadas, e o barulho das conversas misturava-se ao som das botas batendo no chão de madeira. Mas havia uma expectativa no ar. O nome do visitante ressoava entre as pessoas como um eco que se afastava da história: John Holloway, o homem que escrevera versos no deserto, o poeta do Oeste.
John não era um estranho para os habitantes de Dusty Ridge, mas o que ninguém sabia era que, por trás do rosto marcado pelo sol e das cicatrizes da vida dura, estava um homem que mais ansiava ser ouvido do que entender as silenciosas paisagens que o rodeavam. Ele viera para ser aclamado, para encontrar um pouco de conforto naqueles versos que tanto lhe custaram a escrever. Tinha apenas uma coisa em mente: a possibilidade de que as suas palavras tocassem os corações endurecidos pela luta diária.
Quando entrou no saloon, o movimento se estancou por um momento. Os pistoleiros, os fazendeiros e os caçadores, todos os que habitavam a cidade, levantaram os olhos para ele, aguardando. John, com o chapéu em uma mão e o papel amassado em outra, caminhou até ao centro da sala. Colocou o chapéu sobre a mesa e sentou-se com a postura de um homem que sabia que estava prestes a ser testado.
- O que tem para nos mostrar, poeta? - disse um dos homens mais velhos, um caçador que vivia sozinho nas colinas. Sua voz rascante parecia cortar a tensão que se formara. - Vamos ver se suas palavras são mais afiadas que um revólver.
John olhou em volta e viu os olhares de curiosidade e desconfiança. Mas era o seu momento, e ele não podia falhar. Com um suspiro profundo, puxou a cadeira para mais perto e colocou o papel na mesa.
- Eu não sou muito de falar com palavras vazias - disse ele, o tom grave da sua voz quebrando o silêncio. - Mas estas palavras... são minhas. Eu escrevi-as para entender este mundo... e para tentar encontrar algo mais do que só poeira e sol.
E, com isso, começou a ler. As suas palavras eram simples, mas carregadas de uma emoção crua, a poesia que vinha das colinas, dos rios secos, das estrelas perdidas no céu. Ele falava de solidão e luta, de amor e perda, e até de um desejo silencioso por uma paz que jamais encontrava.
Conforme ele falava, algo estranho aconteceu. Os rostos antes céticos começaram a relaxar, e os homens e mulheres do saloon começaram a prestar atenção. O som da caneta no papel, o som das suas palavras, pareciam preencher a sala, enchendo os espaços que o barulho e a rotina haviam deixado vazios.
Quando terminou, não houve aplausos imediatos. Apenas um silêncio profundo. Então, um por um, os presentes começaram a bater palmas, com uma aprovação mista de surpresa e respeito. John não estava ali para ser um homem de fama, mas para ser entendido, e, naquele momento, ele soubera que, de alguma forma, conseguira.
Mas havia mais. O dono do saloon, um homem robusto e com uma risada fácil, levantou-se e anunciou:
- Agora, vamos fazer algo mais prático. Vamos passar o chapéu para este homem. Ele não vai sobreviver apenas com poesia, então vamos garantir que suas palavras tenham um pouco mais de vida.
O chapéu circulou entre os presentes, e, no fim, John olhou para ele com os olhos marejados. Ele não sabia se aquilo era mais valioso que qualquer aplauso. Sabia apenas que, naquele momento, ele tinha encontrado o seu lugar no Oeste. Não como um caçador, não como um homem de armas , mas como alguém cujas palavras poderiam sobreviver, como a relva que brota teimosamente nas fissuras das rochas.
E, naquela noite, no saloon de Dusty Ridge, o poeta encontrou sua verdadeira recompensa.

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