segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

NOD125. Perigo nas trevas

Apresentamos hoje um conto que, apesar do seu título algo alarmante, é portador de uma assinalável ternura, mesmo própria da época natalícia. Quem não gostaria de dormir neste invernoso momento com um esquilinho enrolado ao pescoço.

A publicação deste pequeno conto ocorreu no fascículo 5 do volume 10 do Condor Popular em data não determinada (talvez para o início de 1956) e o autor não está identificado.

O sol declinava, quando «Lobo Solitário», o índio «Cherokee», chegou ao topo de uma colina e ficou a olhar a terra que se estendia a seus pés, através dos olhos semicerrados. 

«Lobo Solitário» observou os movimentos de um cavalo e, notando que o cavaleiro vinha armado, mostrou uma expressão de satisfação no rosto cruel. 

«Num instante, terei o cavalo e as armas»! —murmurou. — «E, então, estarei pronto para defrontar qualquer homem». 

Quando o cavalo e o cavaleiro passaram, o solitário índio desceu a colina e seguiu silenciosamente os rastos. 

O cavaleiro não era outro senão o famoso e combativo «marshal» (delegado do Governo) do Oeste, Wild Bill Hickok, a caminho de Lake City. Cantarolava em surdina, enquanto a sua linda égua, avançava, num trote regular. 

Um leve movimento, entre as árvores, à sua direita, trouxe-o para o solo, num pulo. No momento seguinte, já tinha forçado uma armadilha de aço e libertado um pequeno esquilo vermelho. 

«Ainda bem que tens um grande rabo para abanar, se não bem poderia não ter notado a tua presença, amiguinho!» — murmurou o cavaleiro, pondo o esquilo, com cuidado, no terreno. — «Aí, agora, já estás bem, e acho que posso também, descansar aqui, até de manhã, porque não chegarei a Lake City esta noite». 

O combativo «marshal» penetrou na floresta e tirou a sela à sua égua. Depois, num trecho de terreno mais macio, estendeu o seu longo corpo, com um suspiro de contentamento. Qualquer coisa tépida lhe tocou na mão; e, olhando para baixo, sorriu, ao ver dois olhos grandes e inquisitivos, numa cabeça pequena e felpuda. Era o esquilo. 

«Parece que queres que sejamos amigos!» — exclamou o cavaleiro. E, com o esquilo enroscado no pescoço, acabou por adormecer. 

«Lobo Solitário» penetrou na floresta, com os últimos clarões do dia. Os movimentos da égua eram perfeitamente percebidos por ele, e, para evitar ser pressentido, teve o cuidado de se colocar contra o vento. 

Como uma sombra sinistra, avançou, os olhos perfurando a escuridão, para distinguir a figura imóve1 do cavaleiro, não mais que a alguns metros de distância.

Os pés calçados com «mocassins» fletiram juntos prontos para o salto, mas duas orelhas felpudas tremeram e ficaram espetadas, enquanto o esquilo dava um gritinho de alarme. 

Quando abriu os olhos, o cavaleiro viu já «Lobo Solitário» em pleno salto, sobre si, com a faca levantada! 

Num movimento rapidíssimo, o combativo «marshal» torceu o corpo e rolou para o lado; e, quando o índio caiu na terra fofa, atirou-se logo a ele, estendendo a mão para deter a arma. 

«Lobo Solitário», porém, logrou libertar-se e ergueu-se de um pulo. Depois, precipitou-se, num ataque temível, pata ser apanhado por um «direto» que o atingiu no rosto com tal força que o lançou ao chão, atordoado. 

«Uff! Isto foi mais à justa do que nunca!» murmurou o cavaleiro. «É melhor amarrar este índio doido a urna árvore, até de manhã. Parece demasiado escorregadio, para me habilitar a surpresas no escuro...» 

E, assim, quando o sol se ergueu no dia seguinte, o cavaleiro seguiu para Lake City, levando consigo o mais perigoso índio do Oeste. Antes de partir, porém, dirigiu algumas palavras para o esquilo, que desaparecia no alto de urna árvore: 

«Pagaste a tua dívida, amiguinho! Se não fosses tu, eu já não estaria vivo!» 



FIM  


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